As agroflorestas são, para mim, a forma mais encantadora e eficiente de cultivar alimentos e remédios, de produzir energia e fibras, de recuperar solo, água e autoestima. Se são implantadas e manejadas em mutirões, ah!, então dá gosto de trabalhar, aproveitando a beleza da companhia e a surpresa dos aprendizados.
Dentre as plantas, também tenho minhas preferências: as medicinais e aromáticas me cativam. E a cozinha é dos meus lugares preferidos da casa, porque é nela que temos ferramentas e equipamentos adequados para transformar a fotossíntese em energia e medicina. Quem dera todas as casas tivessem sua pequena Botica, o lugar de transformar agricultura em cuidado para a casa, pra gente, pros bichos.
O olhar para a ecologia florestal é o que baseia o desenvolvimento de agroflorestas. Afinal, como aquela galera toda consegue viver junta e sempre produzindo? Assim, entendemos que uma planta vai se desenvolver de acordo com as condições de solo, luminosidade e umidade que outra, a anterior, proporcionou. Percebemos que uma planta cria a outra. Como irmãs mais velhas que abrem caminho para as mais novas partirem do ponto que as outras alcançaram.
Pensar nas medicinais e aromáticas dentro do sistema agroflorestal fica mais fácil quando entendemos que seus princípios ativos são produzidos a partir da interação com o meio em que se desenvolvem. Todas essas substâncias aromáticas e medicinais fazem parte do que se chamam metabólitos secundários. Os óleos essenciais, os grandes astros das aromáticas, são produzidos por elas para atrair insetos para a polinização, para defendê-las daqueles que podem se tornar pragas, para ajudar a resistir à seca, ao vento, ao frio, etc.
Se os óleos essenciais são parte dos tais metabólitos secundários (compostos produzidos pelas plantas a partir da sua interação com o meio), podemos concluir que quando cultivadas em monocultura, seus compostos são simplificados, não aparecem em todo o seu potencial. Agora, quando cultivamos em agroflorestas e usamos as podas para manejar o sol que chega em algumas plantas, estamos estimulando a produção dos compostos que mais nos interessam.
Como em qualquer cultivo, a monocultura simplifica, superficializa, força a planta a viver isolada. A biodiversidade complexifica e aprofunda o potencial nutricional e medicinal. Muitos estudos científicos já demonstraram que alimentos cultivados em sistema ecológico têm mais nutrientes em relação à produção convencional. O sistema agroflorestal leva isso para um outro nível. E plantas medicinais e aromáticas não são exceção.
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