Nessa semana “comemoramos” o Dia Mundial do Meio Ambiente, 05/06, que foi escolhido pela ONU por ter sido o dia de abertura da Conferência de Estocolmo de 1972, a primeira da ONU a tratar desse tema. Mais do que nunca, é relevante refletir o que significa, então, esse conceito de meio ambiente. Esse post é baseado na discussão que fiz em minha dissertação sobre Educação para o Desenvolvimento Sustentável que apresentei à ASH-Berlim que você pode encontrar aqui (por enquanto só em inglês).
O conceito de meio ambiente mudou durante as últimas décadas. Por exemplo, o título da Conferência de Estocolmo é Conferência da ONU sobre o Meio Ambiente Humano. Hoje em dia essa expressão (meio ambiente humano) não faz muito sentido, porque se considera que o meio ambiente e a humanidade são coisas diferentes, mas vale a pena refletirmos sobre isso.
A associação que se faz normalmente do meio ambiente é o “verde”, ou seja, a vegetação, as plantas, os bichos ou o relevo. Entretanto, em todas as línguas europeias ocidentais, meio ambiente faz referência ao que está em volta. Assim no latim, português, italiano e espanhol (ambire - “ir ao redor”), francês e inglês (environner - “cercar”), alemão (umwelt - “mundo ao redor”), etc. Então o ambiente é o que envolve um ponto de referência: uma pessoa, uma comunidade, uma população, etc. E o que envolve esse ponto de referência não é só os elementos vivos e concretos, mas também elementos simbólicos e abstratos, como elementos culturais, tecnológicos, legais, jurídicos, econômicos, políticos, etc. Olhe em volta, ao redor de vocês há, na mesma proporção, objetos, sujeitos, informações, significados, regras, valores, etc.
Reduzir o meio ambiente ao “verde” ou à “natureza” foi um empobrecimento conceitual e epistemológico promovido, na minha opinião, por quem sempre dominou as narrativas - as classes dominantes. Simplificar para dominar mais facilmente.
Veja, em contraste, o conceito de meio ambiente apresentada na Conferência da UNESCO de Tiblissi sobre Educação Ambiental de 1977:
o conceito de “meio ambiente” inclui um complexo de componentes naturais, construídos e sociais da vida da humanidade. Os componentes sociais constituem um conjunto de valores culturais, morais, pessoais e inter-relações das pessoas nas esferas do trabalho e atividades de lazer”.
Quando temos um problema ambiental, por exemplo, as mudanças climáticas, o que temos não é só concentrações de carbono na atmosfera, mas toda uma intrincada teia de relações econômicas entre e dentro dos países, relações de dominação, questões tecnológicas, sociais, políticas, comunicacionais, culturais, ecológicas, etc. Ou seja, tudo que nos rodeia como seres humanos. O meio ambiente, tratado, como conceito holístico, inclui tudo o que existe em nossa vida. Não é algo separado de nós, é a própria ideia de que tudo está conectado, em círculos concêntricos. O “dia mundial de tudo conectado” não faria muito sentido, mas é assim que deveríamos tratá-lo.
O conceito de meio ambiente como “o verde”, que ganhou força a partir da Conferência Rio92, é reducionista, e foi impulsionado pelos interesses que quiseram e querem ocultar ao público as implicações da interconexão de tudo com tudo mais. É nosso dever como ecologistas retomar um conceito holístico e complexo de meio ambiente, por que só assim poderemos enfrentar verdadeiramente os problemas ambientais que nos afetam.
E para você? Como você vê o meio ambiente? Essas ideias fazem sentido? Comente aí, compartilhe esse conteúdo e vamos construir uma consciência crítica e ecológica que nos ajude a enfrentar esses tempos difíceis que estamos vivendo!
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